O Político, os Incêndios e a Natureza
Este ano um político, veio mostrar de uma forma simples que nada do que defendia em relação à cidade de Lisboa tinha sentido. Veio, em meu entender também mostrar que há negócio para fazer em Lisboa. O que não conseguiu foi mostrar como se podia distanciar do que atacava e aproximar-se do que defendia, sobretudo porque fez o mesmo do que aqueles que criticava, tendo, não aproveitou essa oportunidade única de mostrar que é possível ganhar dinheiro e ser socialmente responsável. Este negócio expôs a fragilidade do Estado que, com diamantes em bruto, faz maus negócios, sobretudo acredito que vítima de excesso de burocracia, de partidarização, e como consequência de falta de massa humana de qualidade para desenvolver negócios que sejam proveitosos para o país. Caso contrário um prédio degradado em Lisboa teria sido recuperado e vendido pelo Estado que vítima desta lógica de falta de visão económica, torna-se despesista e sobretudo displicente em relação aos seus próprios bens. Este acontecimento é transversal a outras áreas da gestão do estado e é disso que quero falar.
Este ano voltei ao meu paraíso no interior de Portugal, este paraíso que tinha ardido sem oposição no Verão quente de 2017, para descobrir que…vai voltar a arder no próximo Verão quente. Neste sentido fico surpreendido por ver as discussões em torno dos incêndios em Portugal ancoradas em tipologia de árvores, competência dos meios de socorro e gestão florestal. É como discutir o sexo dos anjos!
Tenho para mim que o problema principal se prende com a gestão florestal, que resulta do abandono das zonas rurais por um lado e por outro pela modernização destas mesmas zonas, que fizeram com que as populações deixassem de necessitar da floresta e de ir à lenha porque compram aquecedores para as suas casas, por exemplo. Mas também pelo facto de a floresta ser uma manta de retalhos entre milhares de proprietários que por si só não têm capacidade nem interesse em tratar e explorar a floresta, porque objetivamente isso representa mais custos do que proveitos e por essa razão vemos que existem uma série de pessoas/empresas ligadas à madeira que compram e vendem, mas não gerem a floresta, pelo que quando arde o negócio continua a funcionar — às vezes com mais proveitos outras com menos.
Longe de mim discutir soluções técnicas para resolver este assunto do qual não percebo para além do que acabei de escrever e mesmo assim posso sempre estar errado. O que vejo também é que existe à escala global um mercado da madeira que tal como outro mercado qualquer funciona e é lucrativo para os que o exploram de uma forma profissional. Existe procura e oferta, existem empresas que se dedicam a esta área, que são internacionais e que gerem grandes áreas do planeta, com o objectivo de rentabilizar o seu negócio. Isto significa que, para além do negócio, gerem igualmente a floresta de modo a que o seu negócio não seja prejudicado — um bocado como acontece com a indústria do papel em Portugal onde as áreas ardidas são menores e muito mais controladas. Acredito que podíamos encontrar um modelo que permitisse a gestão da floresta — de toda a floresta — e a distribuição de rendimentos por todos os pequenos proprietários.
Seria uma concessão gerida por profissionais do sector com obrigações do ponto de vista da sustentabilidade da biodiversidade, da defesa da floresta e com uma abordagem económica efectiva. Penso que o Estado devia abrir um concurso à escala global para oferecer esta exploração a quem realmente percebe do assunto e sobretudo sabe ganhar dinheiro desta forma. Mas como é que um proprietário quer/entra neste modelo? De uma forma simples — é convidado a isso — ou cumpre regras claras no seu bocado de floresta ou tem de ceder a área para exploração, ganha dinheiro e ao mesmo tempo protege-se a si e ao seu pedaço de floresta.
Esta lição aprendi com o tal político. Há negócio e quem gere um negócio não o faz para perder dinheiro. Precisaríamos de ter um caderno de encargos com regras claras e é sobre isso que devia ser a discussão em torno dos incêndios em Portugal e não acerca do eucalipto ou do pinheiro ou dos bombeiros até porque no fim a natureza vence sempre.
Com as alterações climáticas e o consequente desequilíbrio no ambiente vamos assistir nos próximos tempos a fenómenos extremos de muita pluviosidade vs seca extrema e ao contrário do que possamos pensar os únicos que vão sofrer somos nós, a raça Humana. As árvores e a floresta crescem de novo, as nossas casas e as nossas vidas nem por isso.